quarta-feira, 17 de julho de 2013

Ral, a última viagem!

Meu caro leitorado fiel e eleitorado nem tanto, o RAL fez a última viagem. Apressado ele. Com apenas 56 anos de vida, deixa uma mulher, a Dinah, e quatro filhos: Daniel, Ana, Jeanete e Caio. Não era tempo dele ir. Agora que estava tomando gosto, ia se aposentar e ia ter tempo para fazer suas estrepolias com música, que era o seu vício. Nascido na Pedra Mole teve uma vida dura como é vida de pobre. O normal seria ele ter sido jogador de futebol porque indo morar na Vila Operária, teria que acompanhar Nonato Leite, Pila,Tuica, Nanô. Manoelzinho, Matintim, Durval, Zé Barros, Vagner Biolo, Nilton Choró e tantos moradores do bairro que nasciam chutando as mãos das parteiras pensando que era uma bola. Não, a bola não era o querer do RAL, ele queria era coisa de pé, mas não bola. Queria o samba, também arte de sapatear, pular, faz que vai, mas não vai, dar saracoteios no corpo como Neimar faz nos estádios. Trabalhar com os pés. E com as mãos como o negão Mamulengo nos blocos de carnaval. Ral queria a arte de sapatea   de cantar o protesto, de ir para as ruas, antecedendo estes movimentos de hoje. Sobrinho do Tuica bem que tentou se enturmar no campinho da Vila e no Bariri, mas a “negrada” dizia que ele era ruim. Ruim na pelada é não dar no couro. Mas tinha outra opção, dar noutro couro. O couro do tamborim. O drible do passista e mais além. Escrever o jogo, coisa que não se faz em futebol. O jogo era o carnaval. O campeonato era no asfalto em vez de ser no Lindolfo Monteiro. Era a Frei Serafim. Melhor do que futebol porque no jogo de bola, só se vestia, só se fantasiava quando ia jogar, num terreno murado. No campo do Bariri. No carnaval não. Era campal, meio da rua, asfalto, todo mundo via, era de graça, o povo batia palmas, coisa que não acontecia no futebol porque o povo gosta mais de vaiar do que aplaudir. Samba, Ral escolheu o samba, futebol deixa prá lá. E fez carnaval onde andava. No Saci, na Vila Operária, no Mocambinho, onde ia levava a chama do carnaval, um Rei Momo magro. Triste. Ral era um homem triste. Talve  pela companhia insalubre da diabetis. Melhor seria se fosse a “tia betis cuscuz”. E assim, o Ral fez sua última viagem. Perdeu a crônica carnavalesca, o seu mais legitimo representante, perdeu a cidade um dos seus menestréis, perdeu o carnaval um dos seus esteios, perdeu a música um apaixonado por disco de vinil e perdeu a cidade um homem modesto que não sabia o valor que tinha para a cultura cabeça de cuia. De luto o carnaval piauiense, de luto a Vila Operária.   

Um comentário:

  1. Confesso que não conhecia e nem sabia do seu blog. Parabéns. Me fez lembrar de um tempo feliz de minha vida. Vou continuar acessando e se possível participar com fotos daqueles anos felizes de minha infância, adolescência e juventude. Parabéns mais uma vez.
    Francisco Carvalho

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